Prestes a completar 81 anos, Eraldo Silvio da Rocha, nascido e residente em Sidrolândia, tem uma memória de ‘elefante’. Ele é da família dos Brito, família pioneira que ajudou na construção/formação da cidade. Bastam apenas alguns minutos para que a resposta saia de sua boca e revele o passado da cidade que completa 67 anos.
“Meu tataravô, Vicente Antônio de Brito, veio em 1872 com dois filhos, um era o Antônio e o outro o meu bisavô, Porfírio Pereira de Brito, aqui não era de ninguém”, revelou. Segundo ele, seu bisavô precisou ir duas vezes em Cuiabá à cavalo para legalizar as terras. “Ele legalizou 60 mil hectares sem medir, mas, antes do meu bisavô morrer, o engenheiro Coronel Antonino Melo Gonçalves mediu e ele separou para cada filho”, contou.
Porfírio teve doze filhos, sendo dez mulheres e dois homens, uma das mulheres era Deolinda de Brito e um dos homens era o Oscar Pereira de Brito, avô de Eraldo, que teve onze filhos, sete homens e quatro mulheres, sendo que uma era a mãe de Eraldo, Iracema Brito da Rocha, casada com Israel Rocha, pai de Eraldo. “Na praça tem um monumento do meu bisavô, mas em uma das placas o nome dele está errado, ele não era Barbosa”, alertou.
Deolinda foi a primeira mulher que o catarinense Sidrônio Antunes de Andrade se casou. No entanto, logo após o segundo parto, Deolinda veio a falecer e, como herança do sogro, ele recebeu cerca de 5.400 hectares de terra, foi com essas terras que construiu a sua residência e loteou parte para formar uma vila. Sidrônio soube da implantação da estrada de ferro Noroeste Brasil e fez com quem a estrada passasse perto de sua propriedade.
“O projeto do Governo era para passar em outro lugar, pois ele foi em Campo Grande e mexeu o doce. Naquela época o trilho era feito na mão, era tudo em carrocinha de burro, via-se aquele mundo de homem e trinta carrocinhas enfileirada. Eu andei bastante na maria fumaça, mas era demais de quente”, afirmou.
De acordo com ele, os indígenas ainda não estavam por aqui, vieram de Antônio João e não utilizavam vestes. “Eles chegaram e acharam uma família onde hoje é a Fazenda Laguna, estranharam o povo vestido, acabaram ficando”, revelou.
Eraldo afirmou que naquela época havia o SPI (Serviço de Proteção ao Índio), na qual o Coronel e Engenheiro Militar do Exército Nicolau Horta Barbosa era quem cuidava deles. “Ele veio e falou pro meu pai que estava certinho, de um lado era do índio e do outro do meu pai”.
De rua só havia a avenida Dorvalino dos Santos e era de chão, somente quando houve a divisão do estado foi que asfaltaram da Capital até o município.
“Quando eu era moleque aqui tinha quatro armazéns. Em 1945, não tinha trigo, açúcar, só tinha um automóvel, a ponta da linha de ferro estava perto do água azul, só havia chácara e algumas casas perto da Avenida Antero Lemes e no centro”, relembrou ainda os lugares que hoje já estão mudados.
A lotérica, localizada na Avenida Dorvalino dos Santos, era uma serralheria. A praça central era uma escola e se chamava Porfírio de Brito, na frente foi construído o primeiro Supermercado, o Serrano. “Era do Jairo, depois pegou fogo e queimou tudo, colocaram a culpa em um dos funcionários”, explicou.
Onde hoje é a loja Nova Opção era um banco, o banco Financial de Mato Grosso, fundado por Laucídio Coelho. “Inclusive, presenciei até um assalto lá. Eu estava em uma loja de construção, hoje lá vende perfumes, três homens chegaram em uma caminhonete vermelha C-14 e eu ouvi os tiros, logo vi a caminhonete passando e os caras puxando o capuz. Foram atrás, mas não alcançaram de jeito nenhum, só pegaram um branco que havia sido baleado”, contou.
Quem atirou nos assaltantes foi o gerente do banco, o Jair Marcondes Barbosa, depois desse dia ele ficou famoso no estado e o apelidaram de “Jair Bala”. Jair Bala também foi o fundador do Lions Clube de Sidrolândia, sendo o primeiro presidente. Devido a sua grande contribuição para o município, em 2015, a unidade do Corpo de Bombeiros foi denominada com seu nome afim de homenageá-lo.
O primeiro posto de gasolina de Sidrolândia era onde hoje é a óptica renny. “Era bomba de manual, você mesmo abastecia e morria de cansaço. A gasolina, o querosene, tudo vinha em lata em uma caixa de madeira, eu lembro que minha mãe mandava eu fazer banco com as caixas, depois venderam”. Segundo ele, a bomba elétrica chegou na década de 60 e o local era onde hoje é a Planalto distribuidora de bebidas. “Eu lembro de quando a dona Elmíria doou o terreno para construírem o hospital, eu tinha uns 17 anos, sempre foi ali”.
Ao ser perguntado sobre como era o saudoso Sidrônio, ele deu risada. Andrade nunca foi autoridade, mas era um homem muito esperto. “Ele era meio bagunceiro, andava a cavalo de palitó e gravata, e tinha mania de apertar a minha cabeça. Eu me lembro quando ele estava com a perna amputada, sofria de diabete muito alta e tiveram que amputar, depois ele foi adoecendo, ficou acamado e em seguida morreu”.
Enquanto relembrava o passado, seus olhos brilhavam e enchiam de lágrimas, mas ele se segurou e elas não caíram. “Sidrolândia significa tudo para mim, tem muito o que melhorar, a gente não pode dizer, mas eu não pretendo sair daqui, só pra ir ali pro São Sebastião”, brincou se referindo ao cemitério municipal.
Bastante lúcido, apesar da idade, Eraldo traz na memória relatos e histórias que marcaram Sidrolândia e seus 67 anos.