Depois de Manaus (AM), agora é a vez de presos de Mato Grosso do Sul denunciarem o caos nos presídios. Em carta enviada à Defensoria Pública do Estado, detentos teriam denunciado um esquema bancado por facções criminosas para a entrada de armas, drogas e celulares na cadeia, além da relação promíscua da facção com servidores de presídios e o medo de um massacre como o que aconteceu no complexo penitenciário amazonense.
Conforme apurado pelo Campo Grande News, os presos enviaram carta ao defensor público Paulo José Patuto, coordenador de execução penal, no dia 9 de janeiro.
A reportagem não teve acesso ao documento completo, mas apurou que é uma espécie de |pedido de socorro|. Os presos teriam denunciado problemas como superlotação carcerária, falta de condições de sobrevivência, esquema envolvendo servidores para a entrada de drogas e armas, além de ameaças de morte constantes por parte de líderes de facções rivais.
Ainda de acordo com o que foi apurado, os detentos teriam solicitado, com urgência, uma visita dos órgãos de defesa dos direitos humanos ao presídio, para que possam conferir pessoalmente as denúncias.
Procurada pelo Campo Grande News, a Defensoria Pública confirmou o recebimento de uma denúncia relacionada ao sistema penitenciário. No entanto, disse que, por enquanto, não irá comentar detalhes sobre as informações recebidas.
Ainda conforme assessoria de imprensa do órgão, a denúncia está sendo acompanhada por um defensor que fará um relatório sobre a questão e encaminhará aos órgãos competentes para que providências sejam tomadas, quanto a situação.
Denúncia em Manaus - Nesta terça-feira (10), o diretor interino do Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), José Carvalho da Silva, foi afastado do cargo por suspeita de receber propina de uma facção.
Conforme informações apuradas pelo Portal G1, em 10 de dezembro, uma carta assinada por dois presos denunciou um esquema de corrupção na prisão de Manaus (AM). Um deles acabou morto na chacina do dia 1º de janeiro. Segundo o texto, a facção Família do Norte (FDN) pagou propina para a diretoria facilitar a entrada de armas, drogas e celulares no local.
Assim como fizeram os presos de MS, em Manaus, a carta foi enviada à Defensoria Pública do Estado (DPE-AM), que informou que a denúncia deverá ser investigada pelo Ministério Público.
A vítima da chacina contou no texto que tinha medo de morrer e pedia para continuar na ala chamada de guarda-volumes do Compaj. Ele cumpria pena separado dos demais presos, por ter recebido ameaças de morte. Segundo um documento de 2015, o detento era ameaçado por ter decidido deixar a FDN.
Na carta, ele dizia sofrer |tortura psicológica| da subdiretoria do Compaj e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que estariam ameaçando transferir os detentos do local considerado seguro por eles.
|Os mesmos estão diariamente fazendo ameaças da questão de nós (sic) tirar de onde estamos hoje, guarda-volume, seguro 2. (...) Não temos convívio em nenhum lugar, só temos convívio onde estamos, porque por todos os cantos nós já passamos e saímos entre a vida e a morte|, relata o preso, em trecho da carta.
Segundo o preso, as ameaças da diretoria do Compaj e do GSI ocorriam |sem motivo|. |Só pelo fato de nós internos sabermos que eles são corrupto (sic) e recebem dinheiro da facção FDN, facilitando a entrada de armas, drogas, celulares, facilitando a última fuga que teve no Compaj, onde fugirão (sic) 114 internos na semana passada [início de dezembro] e nada foi feito|, diz.
Massacre - Foi no Compaj que ocorreu o massacre de presos, onde 56 foram assassinados. Após a matança, 284 presos foram transferidos, em 3 de janeiro, para a Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa - que estava desativada até então-, onde ocorreram novas mortes cinco dias depois. Quatro presos foram assassinados: três decapitados e um asfixiado.
Desde então, o clima nos presídios em todo Brasil é tenso, e em Mato Grosso do Sul não é diferente. Na PED (Penitenciária Estadual de Dourados), maior presídio do interior do Estado, onde 2,4 mil homens estão encarcerados, pelo menos 600 internos ligados ao PCC (Primeiro Comando da Capital) estão isolados no raio II e sob constante ameaça de outros 1,3 mil presos, que se declararam oposição à facção criminosa paulista.
Após o princípio de motim da semana passada e risco de confronto entre presos ligados às facções, o medo de uma rebelião permanece, segundo funcionários da unidade. Temendo um ataque, membros e simpatizantes do PCC preparam armas artesanais para enfrentar os opositores.
A Agepen (Agência de Administração do Sistema Penitenciário) afirma que a situação está sob controle em todo Estado. Já o Sinsap-MS (Sindicato dos Servidores da Administração Penitenciária de Mato Grosso do Sul) diz que está longe disto, e cobra medidas urgentes para evitar um massacre e garantir a segurança dos servidores.
Campo Grande News